Lavoisier

Lavoisier e Madame Lavoisier
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Lavoisier viveu em Paris em uma das mais conturbadas épocas, tendo sua história de vida entrecruzada com a queda da monarquia e a Revolução Francesa.    
 Nasceu em Paris em 26 de agosto do ano de 1743 durante o reinado de Luis XV e ascensão de Madame Pompadour. 
Lavoisier, vindo de uma família abastada, aos onze anos foi estudar no Colégio Mazarino. Filho e neto de advogado ingressou-se posteriormente no curso de Direito e estudou concomitantemente botânica com Bernard de Jussieu, mineralogia e geologia com Jean-Etienne Guettard, matemática com o astrônomo Nicolas de Lacaille, eletricidade com o abade de Nollet e química com Guillaume-François Rouelle (FILGUEIRAS, 2007).
Em 1764, Lavoisier diplomou-se em direito e foi admitido no Parlamento de Paris, órgão que funcionava como corte superior de justiça e ajudava o governo em alguma emergência constitucional. Nesta mesma época começou a trabalhar em um projeto de  iluminação das ruas da cidade, apresentando uma memória à Academia Real de Ciências, na qual indicava a utilização do azeite de oliva para a iluminação pública (FILGUEIRAS, 2007).
Lavoisier aderiu, em 1768, a Ferme Générale, uma espécie de Receita Federal, com poderes para executar as dívidas dos contribuintes e recensear novos pagantes, adquirindo uma cota de um terço de um coletor de impostos (BELL, 2007). Responsável pela comissão do tabaco ele lutou contra o contrabando e as fraudes (POIRIER, 1998). Neste mesmo ano conseguiu ser nomeado como membro da Academia Real das Ciências. 
Casou-se em 1771 com Marie-Anne Paulze, aumentando consideravelmente a sua fortuna com o dote da noiva e, além disso, ganhou do seu pai um título de nobreza comprado.


Em 1775, Lavoisier foi convocado por Turgot para ser um dos quatro diretores da Administração da Pólvora e do Salitre, escritório encarregado de regular e controlar a fabricação da pólvora. Em 1776, Lavoisier foi nomeado administrador geral e em conseqüência desta nomeação, mudou-se com Marie-Anne para o Arsenal de Paris (EAGLE; SLOAN, 1998; FILGUEIRAS, 2007). Esta administração era detestada pelo povo que via suas terras escavadas pelo governo para obtenção do salitre (CALADO, 2002).
Para executar investimentos, experimentos científicos agronômicos e testar suas idéias, Lavoisier adquiriu, em 1778, terras na região de Blois vindo a formar uma vasta propriedade rural (POIRIER,1998).
Conforme Madison Bell (2007), para aumentar a eficiência da coleta de impostos e evitar a sonegação, em 1779, Lavoisier propusera a construção de uma nova muralha ao redor de Paris. O arquiteto Claude-Niclolas Ledox, em 1787, foi encarregado de projetar e construir a barreira fiscal dos fazendários. Pelos salões parisienses circulava a seguinte frase: “Le murmurant Paris rend Paris murmurant” (BELL, 2007, p.33).
Em 1787 Lavoisier, Guyton de Morveau, Berthollet e Fourcroy reformaram a nomenclatura química e publicaram o Méthode de nomenclalture chimique (BENSAUD-VICENT; STENGERS, 2001; CROSLAND, 2004, FILGUEIRAS, 2007). Lavoisier se inspirou em Condillac na formulação da nova nomenclatura. Nesta mesma ocasião foi designado para o Comitê de Administração da Agricultura.
Em 1789 Lavoisier publicou o seu Traité élémentaire de Chimie, que utilizava a nova nomenclatura química. Este livro serviu como modelo do movimento intelectual, que propagava o espírito “analítico”, que pretendia tornar as ciências acessíveis à maioria das pessoas e úteis para todos, passando a fazer parte do discurso político como uma garantia de progresso (DHOMBRES, 1996).
Quando a Assembléia Constituinte tomou o controle das finanças do Estado; extinguiu em Março de 1791 a Ferme Générale e criou uma Tesouraria Nacional. Seis Comissários foram nomeados para dirigi-la, entre eles Condorcet e Lavoisier. Lavoisier reorganizou a administração, controlou todas as receitas e despesas, centralizou a contabilidade das finanças, assegurou a troca dos assignats e procedeu as compras de numerário junto aos bancos ingleses, belgas ou holandeses. Além disso, mantinha os deputados, da Assembléia legislativa, informados sobre as atividades da Tesouraria e apresentou as primeiras previsões orçamentárias. 
Na França, a Constituição de 1791 estabelecera o ensino público obrigatório e gratuito, e no âmbito da comissão criada pela Convenção para incrementar o desenvolvimento econômico do país, Lavoisier publicou em 1793 sua última grande obra, Reflexões sobre a instrução pública. Na introdução do texto, Lavoisier faz referência à tabula rasa (John Locke) e na proposta de ensino inclui o tópico: Analyse dês sensations et dês idées (LAVOISIER, 1864, p. 533) tanto no terceiro grau a ser desenvolvido nos Institutos quanto no quarto grau de estudo a serem cursados nos Liceus.
Em 24 de novembro foi ordenada a prisão de todos os fermiers généraux. Lavoisier ficou foragido por três dias, tentando reverter a situação por meio de cartas. Em 28 de novembro, ele e seu sogro se entregaram. Na ocasião trabalhava em prol da reforma do sistema de pesos e medidas.
Após um julgamento sumário, Lavoisier e outros fermiers généraux foram guilhotinados em 08 de maio de 1794. Paris banha-se com o sangue do cientista e a revolução continua.

BELL, M. S.; Lavoisier no Ano Um: nascimento de uma nova ciência numa era de revolução – tradução Ivo Korytowski. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. 198 p.
BENSAUD-VICENT, B. e STENGERS,I. Histoire de la chimie. Paris: La Découverte. 2001
CALADO, J. C. G. Desventuras químicas. Química e sociedade. 2002. Disponível em:
https://www.spq.pt/magazines/BSPQuimica/610f. Acesso em: 08/05/2018.
CROSLAND, M. P. Historical studies in the language of chemistry. New York: Dover / Phoenix Editions, 2004.
DHOMBRES, J. Livros dando nova forma à ciência. In: DARNTON, R.; ROCHE, D. (orgs.) A
imprensa na França, 1775-1800 – tradução de Marcos Maffei Jordan. São Paulo: Edusp, 1996. 408p.
EAGLE, C.T.; SLOAN, J. Marie Anne Paulze Lavoisier: The Mother of Modern Chemistry. The Chemical Educator. Vol.3, n.05. pp. 01-18, 1998.
FILGUEIRAS, C. A. L. Lavoisier: o estabelecimento da Química Moderna. 2ed. São
Paulo: Odysseus Editora, 2007.197p.
LAVOISIER, A. L. Oeuvres de Lavoisier. Paris: Imprimerie Impériale. 1862-1893, 6 vols. Oeuvres de Lavoisier publiées par les soins du Ministre de l'Instruction Publique Tome VI Rapports à l'Académie, notes et rapports divers. Economie politique, agriculture et finances. Commission des poids et mesures. Disponível em: http://moro.imss.fi.it/lavoisier/main.asp. Acesso em 08/05/2018
POIRIER, J. P. Lavoisier: Chemist, Biologist, Economist – translated by Rebecca Balinski.
Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1998, 516 p.


CARVALHO, R. S. Lavoisier e a sistematização da nomenclatura química. Sci. stud.,  São Paulo ,  v. 10, n. 4, p. 759-771,    2012 .   
http://dx.doi.org/10.1590/S1678-31662012000400007.

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